Cirurgia (2)

Acordei numa sala cheia de macas com gente gemendo, às 3h da manhã. Tava tudo amortecido nas pernas. Não mexia nada. Tava na chamada Sala de Recuperação Pós-Cirurgia, ou algo parecido. Me deram um conosquinho para eu me alimentar, já que estava de jejum desde o meio-dia de quarta. Comi e logo dormi de novo, de cansado.

Novo despertar, agora com uma enfermeira ao meu lado:

“Bom dia! Tudo bem? Precisas urinar?”

Naquela hora, não sabia que essa pergunta era tão importante. Comecei a desconfiar depois que o médico plantonista chegou:

“Estás te sentindo bem? Já urinaste hoje de manhã?”

As outras duas enfermeiras me perguntaram o mesmo, é claro. O médico voltou:

“Não urinaste? Bom, tu vais assim mesmo para o quarto.”

A manhã de quinta foi uma tortura mental para eu urinar. Cheguei no quarto e me deram um ‘papagaio’, um penico-garrafa de aço com uma gargalo grande:

“Se quiseres fazer xixi, usa isso. Queres descansar?”

Sim, quero descansar. Dormi mais par de horas.

Acordei umas 8 horas, com a enfermeira do meu lado com uma bandeja com o café: “Bom dia! Já urinaste?”. Ai, meu DEUS! Minha vida nesse hospital é mijar! Não que eu não tivesse tentado, mas a água não queria sair.

Seu Breno e Dona Lúcia vieram no meio da manhã, para me fazer companhia e saber como eu tava. Conversamos animadamente, mas eu estava preocupado com o tal do papagaio.

O golpe final foi perto do meio-dia:

“Marco, liguei pro teu médico e ele disse que é para te sondar…”

“Não é muito legal essa estória de sonda, né?”

“Não, não é.”

“Não tenho um prazo para tentar novamente?”

“Ok, vamos esperar até meio-dia.”

Já eram 11:40h, é claro.

Não precisa ser muito esperto para saber que esse negócio de sonda não é muito agradável. Enfiar um treco não sei de que tamanho, não sei aonde, para puxar o mijo de dentro de tua bexiga, não sei como, não deve ser algo light.

Bateu o desespero: vou mijar agora, nem que seja a última coisa na minha vida! Mandei todo mundo sair do quarto, para a concentração absoluta. Pedi para fechar as janelas. Desliguei a TV. Posicionei o papagaio. Me coloquei em posição mijagorapelamordedeus.

Fiz tanta força que quase me borrei junto. Resultado: perto de um litro, quase transbordando a porqueira do pote.

Chamei a enfermeira.

Cirurgia (1)

Na quarta, dia 28jan, pela noite, cheguei ao Hospital Moinhos de Vento. Ficamos esperando horas até que me encaminhassem à sala de cirurgia, direto. Meu pai, coitado, ficou agüentando comigo não só esse tempo, mas todo o tempo da cirurgia também. Lá pelas 3 horas da manhã me liberaram para uma sala pós-operatória. Só depois disso que o pai foi embora.

Não me perguntem da cirurgia. Eu não sei de nada. Foi engraçado. Primeiro, fui no vestiário, trocar de roupa e colocar aquela camisola vexatória de hospital. Depois, me encaminharam para a sala de operação, onde deitei na mesa sob aquela luz forte, já com as enfermeiras e assistentes me esperando.

A anestesista se aproximou. Me avisou que eu faria uma anestesia peridural, porque isso e aquilo. Virei. Ela me deu a injeção nas costas. Virei de volta. Estendi o braço esquerdo para ela me dar algum outra medicação. Foi ela espetar a agulha no braço e tudo ficou preto.

Um sono imediato e absoluto.